Sala de Psicoterapia

O britânico deixou-se guiar, olhando curioso em volta, vendo algumas pessoas estranhas caminhando. Não pareciam prestar atenção neles, o que era bom na concepção de Arthur. Passou para dentro da sala, caminhando junto ao chinês até a mesa, sentindo um ligeiro incomodo quando teve a mão solta. Nada disse, sentou-se no lugar reservado a si, aconchegando-se no assento. Inclinou a face levemente para o lado, sem entender sobre o que ele falava.

- Algo? Está se referindo exatamente a o quê?

Observou com atenção cada gesto do médico, atento a qualquer movimento adverso. Era uma preocupação diferente que sentia nesse momento, ainda opressora, mas de certo modo sombria, não conseguia dizer ao certo o motivo. Respirou fundo e soltou o ar silenciosamente, fitando-o sério, mas logo abaixou o olhar.

- Eles... queriam se livrar de mim. Porque ninguém me entende. Eles.... - estremeceu. Lembrava-se bem de como apanhava de Patrick... e seus outros irmãos, mas especialmente o escocês. Encolheu-se, pensando que era por isso. Devia ser, afinal. Não tinha feito nada... Simplesmente nada. - Não me querem.

- Não precisa tentar me animar.

Respondeu sem rodeios, quase que cortante, um sorriso triste esboçado nos lábios, embora os olhos ostentassem um brilho estranho: uma mistura de mágoa, ressentimento e mais um turbilhão de confusões.

- Casey... Patrick.... Todos, todos eles... Eles me odeiam. Por isso me prenderam aqui. Eu sei disso.

E falava sério, parecendo não blefar dessa vez, fitando fixamente o chinês, dentro dos olhos, como se o desafiasse a provar o contrário. Caso tentasse mesmo, precisaria de muito; era como um trauma para o inglês a presença de seus irmãos mais velhos, mesmo que às vezes eles demonstrassem algum carinho... Era tão raro! O que ficara gravado foram as surras e hematomas. O que era triste, porque... até que gostava ou poderia gostar deles. Apesar de tudo.

Respirou fundo e soltou o ar lentamente para se acalmar. Poderia ser verdade, mas Arthur sabia que não era, não conseguia deixar de manter aquele sorriso torto nos lábios. Não poderia agir rudemente com Yao, ele era seu amigo - ao menos pensava ser.

- Não tente saber mais da minha vida que eu mesmo... - balançou a cabeça negativamente, rindo-se baixo, logo ficando de pé. Começou a caminhar pela sala, olhando com interesse a decoração. Aquele ambiente o acalmava, provavelmente algo no ar dela ou coisa parecida. - Então! Ainda não me disse seu nome.

Indagou, virando-se mais uma vez para que o chinês ficasse ao alcance de sua visão. Ele era bonitinho e parecia indefeso, preferia pessoas assim do que assustadoras. Não que tivesse medo! Não tinha. Era apenas uma preferência.

Não chegou a perceber a aura rude que rondava o chinês, já que esta fora rápida. Era até melhor assim, apesar de que o inglês não fazia por mal - não agora, ao menos. Era arrogante (talvez uma forma de proteção ou somente por natureza mesmo...), mas até tentava soar mais agradável, apesar do ar orgulhoso ter voltado. Até se aproximou mais uma vez da mesa, apoiando as mãos no tampo na área livre, nos lábios brincando um sorriso de canto.

- Eu queria saber! Ou foi muito atrevimento?... - pareceu se preocupar, inclinando a face ligeiramente para o lado.

Sentiu que era empurrado, apenas o suficiente para não se aproximar mais, então respeitou a escolha. De algum jeito estranho, não queria magoá-lo, então permaneceu parado. O sorriso mantinha-se nos lábios, embora dessa vez fosse até mais simpático e receptivo - com um quê de sedução inconsciente. Sentou-se novamente, rindo baixo, erguendo a cabeça para voltar a observar melhor o chinês. Realmente uma graça, pensou... Sem pensar, ergueu uma das mãos, segurando a dele e ao sentir o toque da pele aveludada, levou-a até a própria face, fechando os olhos e tombando-a para que tivessem um maior contato.

- Wang Yao... Um bom nome. Gosto dele.

Demorou um pouco para que Arthur abrisse os olhos, mas apenas um pouco. Quando o fez, mirou o rosto do chinês com os orbes esverdeados próximo de si. Mantendo uma das mãos segurando-o firme, mas com alguma delicadeza, levou a outra até a face alheia, acariciando-a com as pontas dos dedos. Tão fofo, vermelho por tão pouco! Sem que percebesse, o inglês abaixou o tom, deixando a voz macia e um pouco animada, apesar de manter-se educado.

- Não precisa agradecer. Eu gostei de você.... O que acha de vir comigo? - Deslizou os dedos da pele para os fios longos que caíam na lateral da face dele, enlaçando-os nos mesmos. - Posso conseguir tudo que você queira... Mostrar um mundo que você não conhece! O que acha? Prometo que será incrível.

Soltou um muxoxo contrariado quando ele se afastou, embora se tivesse dito algo, não teria sentido. O barulho foi indecifrável, apenas mostrava o descontentamento. Só que as feições que o delatavam não duraram muito, pois pessoas difíceis eram mais interessantes. Não teria graça se ele aceitasse de primeira! Mas Arthur podia apostar que o sínico tinha ficado curioso quanto a sua proposta.

Mesmo ele teimando, teimando em afastar-se de si, o inglês também era teimoso, teimando em se aproximar, inclinando-se de modo a fitar a face dele. Tomou-lhe uma das mãos, elevando-a um pouco.

- Você realmente acha legal ficar aqui? Podíamos viajar... Navegar. Ir aonde você queira! É incrível, sabia? Deveria experimentar essas coisas junto à mim.

Cerrou levemente os olhos, inclinando-se o que restava, ficando a roçar os lábios no dorso da mão alheia, embora com um sorriso persistente a adorná-los.

O inglês precisou segurar um suspiro, afrouxando o aperto na mão dele para que ele a puxasse de volta. Achava um pouco charmoso o modo dele rejeitá-lo... Não que estivesse rejeitando, dava mostras claras (aos olhos do britânico) de que gostava dele, mas tinha algum empencilho. Provavelmente o trabalho, ah. Bem, não teria graça se ele caísse tão fácil; Arthur era do tipo que gostava de desafios.

- Mesmo? Então já é algo.... Quando é sua folga? E, ah! Não precisa fugir de mim. - Riu-se discretamente, com elegância, aproximando-se e rodeando os braços na cintura do menor, aspirando o aroma dos fios castanhos enquanto aproximava os lábios da sua orelha, sussurrando sedutoramente. - Prometo não contar para ninguém.

"O que você não irá contar?"

Uma pergunta meio ingênua, Arthur pensou consigo mesmo, mas isso só acentuava o charme do asiático. Manteve um dos braços a rodear forte o corpo do menor, mantendo-o junto a si, sorrindo quase que com diversão após aquela pergunta, levando uma das mãos até o queixo dele, elevando-o para isso.

- "O quê", você pergunta? Talvez... isso.

Semicerrou os olhos aos poucos, quebrando a distância até encostar os lábios contra os dele, mantendo os orbes ficos na face do chinês para observar a reação que arrancaria dele.

Deixou que o outro fugisse de seus lábios, mas manteve os braços firmes na cintura dele, abraçando-o com algum carinho contra si. Quis rir, Wang não devia ficar tão tímido! Mas se controlou por respeito, ainda era um gentleman, contentando-se em se inclinar e roçar os lábios contra a curva do pescoço dele, movendo-se de modo que sentia a própria respiração bater na pele suave. Moveu um dos braços, subindo pela cintura e transpassando-o pelo tórax do menor, segurando por fim em seu ombro, como em uma armadilha para que ele permanecesse ali. Aconchegou-se contra ele, distribuindo pequenos beijos no pescoço exposto.

- Não precisa mais se preocupar... Apenas esteja comigo. - Murmurou.

Ainda que discreto, aquele fora um suspiro, Arthur pode ouvir claramente. As reações demonstravam bem ao contrário das palavras que ele pronunciava. Mesmo com o braço segurado, não se afastou, apesar de suspirar brevemente quando teve os lábios tocados, distanciou a face somente o suficiente para fitar dentro dos olhos acastanhados do menor, a voz ainda soando como um sussurro sedutor:

- Tem certeza? Não é o que suas reações estão dizendo... - Ergueu uma das mãos, tocando-lhe o queixo com o indicador e o médio, movendo o queixo em direção à própria face. - Muito menos o que seus olhos demonstram.